Ainda sentia o gosto cinza entre os dentes
                                                                           Para Luciana Reis




ela olha o mar
como quem olha a vida
cheia de infinita esperança

ela olha o mar
com quem compartilha
o segredo da vida

ela olha o mar
grávida de sutil
devoção

mar-mãe
mãe-mar
Até que eu me esqueça
Todo o peito é dor

Até que eu me desfaça
Todo o peito é desamor
Tudo o que eu posto
É a continuação
É a continuação da repetição
É a repetição da continuação
É a repetição da repetição
É a re-pe-ti-ção
É a re
É a ré
Tudo o que eu posto
É na esperança de que você veja
É na esperança de que você entenda
É na esperança de que você me entenda
Nem que eu fique aqui só olhando o teto
Nem que eu fique aqui, de olhos fechados, imaginando que, a qualquer momento, o teto possa desabar
Vou continuar

      Parece que faz 10 anos que nos vimos pela última vez. Os dias são longos e quando a noite chega, eu, sozinho, no escuro do meu quarto, sinto que estou numa escuridão maior ainda: escuridão imensa, inesgotável, quase infinita.
      Aquela frase ainda reverbera em mim, fica batendo em todas as crateras e cavidades do meu corpo, como se nunca se aquietasse definitivamente e morresse.
     Ela vive! Está em mim! E, às vezes, morde um quezinho lá dentro, e mastiga leve, devagar; mas profundo. Eu li e quase morri, li e senti como se fosse o maior dos absurdos, li e senti como se fosse a maior das traições; mesmo sabendo terrivelmente que não era.




Acho que você chegou em casa e dormiu.
Não ligou a internet, não viu minhas mensagens e dormiu.
Mas talvez nem tenha chegado ainda:
Não me caibo em angústia e hesitação!