A Charles Miranda


ele, assim,
olho direto no olho

quase a perder-se
no que não é

sei o que quer
e me faço disponível

como se fosse um jogo
deixo me comandar

dedos vasculham
bicos e buracos

essa língua que rasga
minha nuca

meus dentes que arranham,
de leve, aquele pau

depois ele vem,
cheio de sede, sobre mim

seu prazer é
me machucar, me humilhar

mas, o contrário disso:
gosto, e ainda mais só por isso

então, finjo que finjo
e gozo sem ele perceber

é minha vingança
por todos que pensam mandar em mim

quase chego a sentir
afeição por ele

mas, é só outro pau
cheio de lamúrias





Poema-resposta ao poema "Desamor" de Charles Miranda!
aquele era um corpo por demais benigno, não me oferecia qualquer perigo como se o conhecesse totalmente; era um corpo-irmão, não era cheio de pontas ou arestas e, por mais que me fustigasse, era em vão, era não, era morto